sábado, 12 de maio de 2012

O problema da “religião”


Na minha opinião o problema é conceitual a medida em que a proposta de“religar” (religare) dando a entender que o que precisa de religamento está desligado.
Estamos todos desligados de Deus (ou o nome que quiser) e para que a conexão se restabeleça : a religião.
Cada uma propõe um caminho: Da abstinência ao dinheiro, dos sacramentos as leituras, da caridade aos mantras, a frequência aos templos, obediência aos sacerdotes…São tecnicas, fórmulas, ensinamentos; os “7 passos para merecermos Deus”.
Com o passar do tempo, por conta de inúmeros excessos cometidos em milhares de anos, a palavra “religião” foi se desgastanto.
“Ciência”, “revelação”, “modo de vida”,”cultura” e assim por diante, sinalizavam que, se o nome mudou, o espírito continua o mesmo: “Junte-se ao nosso clube e conheça a verdade.”
Você sabia que a maioria das referências das principais religiões do mundo não tinha a intenção de criar uma religião ?
Sim, de Jesus a Buda, a mensagem era outra.
Jesus falava sobre isso.
Dificil ouvir esse nome e não associá-lo imediatamente ao cristianismo, mas o Cristo não era cristão , nem católico ou evangelico.
Estranho que o nome que mais associamos a religião foi em seu tempo um dos maiores opositores dos seus representantes.
Quando encontrava os “pecadores” era cheio de compaixão a ponto de ser criticado pelos religiosos por “comer com prostitutas”, mas , quando encontrou com os que lucram com a fé, fez um chicote e os colocou para correr.
Ele falava sobre a Graça e a impossibilidade de, por méritos próprios, sermos reconhecidos por Deus simplesmente para que ninguém se orgulhe.
Ia a festas, sorria, chorava e lidava com gente.
Ensinou a agir com a consciência de quem sabe que seu caminho é fruto do que você escolhe ser, não por medo ou ameaças, mas por amor e inclusão.
Hoje é visto como ícone do cristianismo e da religião de forma que, em seu nome, se comete toda sorte de roubos e absurdos.
Não foi isso que ele ensinou.
Falava dos lirios dos campos que são cuidados sem nada fazer, dizia que seu reino não estava fora mas dentro de cada um, não fazia apologia as igrejas pois deixou claro que “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome “ali estarei”, sem templos, culpas, penitências, sacrificios, dinheiro, mas sempre pela via da consciência,do auto enxergar-se baseado no entendimento de que Deus, de fato, é amor. E se é amor, dizia ele, não precisamos ter medo de Deus. É quando se desconstrói a imagem do Deus vingativo, vaidoso e implacável, que impõe para aqueles que pensam e questionam a punição eterna.
Olhava para as crianças e as dava como exemplo descomplexificando qualquer tentativa de teologizar o que simplesmente é. Ele não conhecia moralzinha teológica.
Não precisamos dos rituais.
Seu poder não vinha do dinheiro e seu caminho era nas praças, ruas, praias…Falava com simplicidade.
Sua mensagem era a antítese do poder e luxo do vaticano ou da ganância de pastores evangelicos da teologia da prosperidade.
Não pregava a pobreza, mas lembrava que a riqueza é perigosa. Quando estimulado a usar influência política dizia que seu reino era no coração.
Apesar disso ainda predomina o entendimento de que é preciso nos religarmos. Dificil explicar: apesar de ser o que somos, continuamos conectados.
É só olhar para dentro e perceber que, mesmo que ninguém nunca nos ensine nada disso, a percepção de que é assim vive em nosso coração e se manifesta sempre que temos acesso ao que é bom.
Os fios e cabos que nos conectam estão aí, nunca serão cortados, então seja honesto, procure agir com misericórdia e se baseie sempre na lei do amor.
Isso basta a medida em que tudo o que você fizer para se conectar lhe garantirá no máximo efeito terapeutico, porque, de fato, não há o que fazer.
Se é assim, melhor descansar sem culpas caminhando no entendimento de que, não nos templos ou nas ONGS, mas no coração que permaneceremos eternamente conectados. Sem neuras, sem fardos, em paz.

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