sábado, 30 de junho de 2012

ACERCA DA ALMA E DO ESPÍRITO



ACERCA DA ALMA E DO ESPÍRITO

Alma... essa é uma das palavras mais vitais de qualquer vocabulário.
O nível de complexidade relacionado ao que se define por “alma” é tão grande que a sabedoria manda simplificar a fim de não confundir.
Hebreus 4:12-13 nos fala acerca da impossibilidade humana de destrinchar os conteúdos, os limites, as existências em-si-mesmas daquilo que os nossos vocábulos designam como mundo interior, e afirma que somente a Palavra de Deus pode fazer a separação entre tais ethos — tais coisas-em-si:
"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas".
Toda tentativa de fazer “separação” que estabeleça “precisão” entre aquilo que nos constitui interiormente anda ainda longe de poder definir o quê é o quê em nós.
De fato, a interioridade humana pode ser discernida apenas, talvez, pelo próprio homem, ainda que sempre “em parte”. Mas jamais pode ser completamente explicada.
O ser é discernível, mas não é explicável em palavras.
O homem pode “examinar a si mesmo”, mas não consegue nem explicar e nem auto-definir sua própria constituição, nunca conhecendo bem as fronteiras e as intercomunicações de seu próprio interior.
A humanidade pode desenvolver uma Psicologia... O que ela não pode é pedir ao psicólogo que explique a si mesmo.
Quando se trata do “em-nós-mesmos”, a gente pode apenas pedir a benção de discernir... Explicar seria pura bobagem.
Paulo é o autor do Novo Testamento que mais “psicologiza” acerca da interioridade humana, mas não faz nenhum exercício de sistematização de coisa alguma a esse respeito.

O que interessa hoje, aqui, é olhar superficialmente como Paulo designa o termo psique e a que ele a relaciona.
Paulo emprega o termo psique apenas doze vezes. Em seis desses casos, o significado é vida:

Rm 11:3: "Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e procuraram tirar-me a vida?"
Rm 16:4: "(...) os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios".
I Co 15:45: "Assim também está escrito: O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão, espírito vivificante".
II Co 1:23: "Ora, tomo a Deus por testemunha sobre a minha vida de que é para vos poupar que não fui mais a Corinto..."
Fp 2:30: "(...) porque pelo evangelho de Cristo (...) chegou até as portas da morte, arriscando a sua vida para suprir-me o que faltava do vosso serviço".
I Tess 2:8: "Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade desejávamos comunicar-vos não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto vos tornastes muito amados de nós".

Dentre os quatro usos psíquicos —ou seja, psicológicos—, três indicam desejo:
Ef 6:6: "(...) não servindo somente à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus".
Fp 1:27: "(...) firmes num só espírito, combatendo juntamente com uma só alma pela fé do evangelho..."
Cl 3:23: "E tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor, e não aos homens..."

Ainda designando o termo como algo psíquico, Paulo o usa a fim de também indicar emoção:

"E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Tess 5:23)
Os dois exemplos restantes retirados do uso que Paulo faz de “psique” são pessoais e designam o individuo, o ente perceptível, historicamente:
Rm 2:9: "(...) tribulação e angústia virão sobre a alma de todo homem que pratica o mal..."
Rm 13:1: "Toda alma —ou homem— esteja sujeita às autoridades superiores..."

Para designar o que há de mais superior na existência humana interior, Paulo usa o termo pneuma.
Assim, ele estabelece uma diferenciação de fontes vitais na interioridade humana.
Há o homem “almal” e há o homem “espiritual” — sendo que a primeira dimensão se vincula mais ao que existe como emoção, afeição, constituição de personalidade, influências culturais, e relacionamentos inter-pessoais, com todas as “trocas” que se transformam em “cumulações” e “heranças” derivadas do existir de todos os humanos.
Assim, o Homem Psychikos expressa a natureza humana em si mesma.
A segunda dimensão —a espiritual— expressa o nível de ser que transcende o imediato. É o transcendente no homem, e que é transcendente ao homem, sem deixar de ser o homem.
Desse modo Paulo fala do Homem Pneumatikos, que expressa o ser consciente e subordinado ao Espírito de Deus, pondo o próprio espírito humano como senhor de sua própria alma.
Assim, o espírito dos profetas está sujeito aos próprios profetas!
Paulo diz:
"Ora, o Homem Psychikos não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o Homem Pneumatikos discerne tudo muito bem, enquanto ele por ninguém é discernido" (I Co 2: 14,15).
Paulo, todavia, não esquizofreniza esses dois homens no Homem. Ele é um só, embora haja dimensões de um só que expressem conflito entre si.
Romanos 7 expressa essa luta interior melhor do que qualquer outra descrição bíblica.
Mas Paulo também emprega psique junto com pneuma, e faz isso numa visão integral da Graça de Deus operando na redenção do ser como um todo.
Em I Tess 5:23 ele descreve a materialidade e a imaterialidade humana —tanto a corporalidade como também a sua natureza em si; tanto a Psique-Imedita como a Psique-Transcendente— e não separa tais dimensões em nenhum momento. Ao contrário, ele toma as diferentes funções do interior humano e delas faz uma e a mesma coisas: o ser... e põe tudo o que nos constitui sob a Graça de Deus:
"E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo".
Desse modo, eu tenho uma alma que é alma no espírito e um espírito que é espírito na alma.
A alma do espírito é ser espírito para a alma e o espírito da alma é ser alma para o espírito.
Bem-aventurados os que crescerem para alcançar não apenas esse entendimento, mas essa Vida.
Eu quero, Senhor!

Caio Fábio
Escrito em 2003

sexta-feira, 29 de junho de 2012

QUEM FEZ VOCÊ CRER NO SUCESSO DA IGREJA SEGUNDO ESTE MUNDO?



QUEM FEZ VOCÊ CRER NO SUCESSO DA IGREJA SEGUNDO ESTE MUNDO?

O que Jesus veio fazer neste mundo teria falhado? Sim, é justo que se pergunte isto ante o que Sua mensagem e feitos [...] realizaram na experiência da existência histórica dos humanos ou coletivamente na História humana?

É verdade que Ele disse que o mundo odiaria a Sua Palavra e aos que por ela vivessem; e também que a melhor chance que o mundo teria de crer que Ele fora enviado pelo Pai seria mediante a prática simples do amor entre os Seus seguidores; e mais: é também verdade que Ele parecia crer que quando Ele voltasse outra vez [o Filho do Homem], não haveria fé na Terra.

Também é verdade que Ele disse que o Seu Caminho/Porta era estreito, e que apenas poucos entrariam por ele; e também é fato que nas Suas mensagens proféticas não se encontra nenhum traço de “vitória” associada ao que Ele chamou de “minha Igreja” [...] como ente a impor-se sobre o mundo.

É ainda inequívoco que Ele tenha dito que o futuro não aguardava os Seus discípulos com nenhuma Era de Paz e de Amor entre os homens; ao contrário, as Sua Palavras nos falam de ódio, divisão, de irmão entregando irmão; de casas divididas; dos inimigos do homem serem os da sua própria casa; e que Ele mesmo não viera trazer paz à Terra, mas espada.

Sim, a leitura das Palavras de Jesus não nos acende na alma a esperança de controlarmos os poderes do mundo, nem das nações, e nem da Civilização humana; antes disso, no indica um caminho de fé entre poucos, uma vereda discreta, um pequenino rebanho, algo como o voar de vagalumes na escuridão da noite.

Nos evangelhos não encontramos essa Palavra de Vitória de Jesus sobre os Poderes da História, sobre o Mundo; e nem tampouco qualquer insinuação de que a Sua Igreja seria vitoriosa sobre as forças do Príncipe deste mundo como fenômeno de supremacia do bem sobre o mal.

Não, nem os evangelhos e nem o Apocalipse nos descrevem tais cenários. Portanto, outra vez, pergunto: de onde, pois, eles nos vieram, ao ponto de que hoje pensemos que alguma coisa tenha falhado?

Até ao 4º Século desta Era nenhum discípulo cria que viveria para ver a Igreja ser qualquer coisa além de um Fermento, uma Luz, um Sal na vastidão da terra, um Pequeno Rebanho entre Lobos, uma pequena Semente que cresceria como sombra e lugar de agasalho; mas não de triunfo.

Ora, e isto tudo ainda em meio a divisões internas, a apostasias, a negações, perversões e mortes espirituais de muitos grupos que, antes haviam crido, mas que, ante a imposição “da espera” [...] perderiam a fé; e, portanto, escandalizar-se-iam, trairiam, desistiriam; ou, então, tornar-se-iam “maus” e aproveitadores dos demais — conforme várias parábolas de Mateus, Marcos e Lucas nos deixam ver...

Todavia, o paradigma foi mudado para sempre nas falsificações das esperanças da Igreja que foi virando “igreja”, quando o Império Romano ungiu a “Igreja” e criou o “Cristianismo” como poder terrestre e mundano.

É daí que vem esse surto de Vitória Visível da Igreja de Jesus na Terra; e, consequentemente, a busca por tal poder entre os homens —; ou, em meio á frustração de não conseguir realizá-lo, a não ser pela espada e pelas forças do Príncipe deste mundo, vem a descrença, o sentimento de fracasso, de inviabilidade do Evangelho e da Igreja no mundo; instalam-se como descrença e cinismo na alma dos que antes criam e amavam.

Sim; tal sentimento decorre de que a Igreja passou a pensar como “igreja”, e de que o Evangelho tenha sido entendido como uma revolução inescapável a impor-se sobre os principados e potestades dos sistemas do planeta.

Desse modo, cada novo cristão se converte crendo que sua geração mudará o mundo; e que o que não aconteceu no passado, acontecerá hoje; e mais: crendo que a “vitória” da Igreja sobre o Império Romano provou tal possibilidade [...]; não enxergando eles jamais o oposto; ou seja: que, ali, naquela virada [ou melhor: naquela emborcada], quem estava sendo definitivamente derrotada era aquilo que até então, com todos os problemas previstos nas profecias, era, na sua fraqueza, forte; e na sua fragilidade e falta de densidade, invencível; a saber: a Igreja na sua melhor expressão histórica até então.

Sim, o Imperador Constantino se tornou o pai do sonho de supremacia da Igreja sobre o mundo; e, desde então, todos os grupos cristãos anelam pela volta de tais dias, ou mesmo pela reimplantação deles na sua geração. Daí os cristãos terem-se por tão honrados quando um governador se “converte”, ou quando uma “autoridade eclesiástica” é elevada de maneira pública, ou quando à “igreja” um poder politico atribua importância, significado e força histórica.

Jesus, todavia, nunca nos deu a menor margem de crença em tais coisas até ao fim. Jamais! O que Nele vemos é que apesar de tudo a Igreja não seria destruída e que as Portas do Inferno não prevaleceriam contra ela; mas, em momento algum, se vê Jesus afirmando que a Sua Igreja criaria um Milênio; algo como um impor da verdade e do amor sobre as forças do mundo e da história; ou ainda que ela tornar-se-ia reconhecida como o Oráculo divino falando aos homens.

Ao contrário, ao ouvirmos o que Jesus disse, o que percebemos é que tais possibilidades de “vitória” sempre seriam sinais de apostasia da fé; sempre seriam a declaração de que se teria aceito a cooptação das forças do Príncipe deste mundo; sempre seria algo que apenas nos poria no lugar de ungir a Besta no papel de um Falso Profeta.

Para Jesus, o reino de Deus não se manifestaria com demonstrações visíveis, mas invisíveis e interiores; seria um poder no olhar, no espírito, na existencialidade; seria algo somente discernível por quem tivesse nascido da água e do espírito; e que aconteceria sempre sob o signo do desprezo e das muitas batalhas.

Quanto a não permitir que qualquer impressão de supremacia da Igreja como Potestade se instalasse na mente dos Seus discípulos, Ele afirmou: “Não será assim entre vós; antes, o maior seja o menor; o grande seja o que sirva; o poderoso seja o fraco do amor e da entrega”. E, lhes lavando os pés, disse: “Compreendeis o que vos fiz? Eu vos dei o exemplo!”
Pedro já advertia os discípulos dos seus dias, e que começavam a sofrer e a perguntar quando seria o tempo da vitória, dizendo-lhes que não lhes parecesse que algo teria dado errado, posto que o Senhor lhes garantisse que seria como estava justamente acontecendo...; e disse também que por tal equivoco de esperança surgiriam muitos perguntando “onde está a esperança da Sua vinda?”; ou mesmo indagariam acerca do “poder da Sua Presença” entre os homens...; visto que tudo continuara como desde o principio da criação que se pervertera.

Em Mateus 24 e 25 todas as Parábolas de Jesus nos falam de uma “espera” devastadora e desalentadora; de tal modo que alguns ficariam “maus e abusivos”, outros “dormiriam de desesperança”, outros “enterrariam seus dons de amor”, outros somente O veriam em “cenários sagrados” ou predeterminados; daí não serem capazes de vê-Lo entre os pobres, marginalizados, desterrados, doentes, abandonados e não desejados desta existência.

O fenômeno da Hermenêutica Constantiniana de interpretação do significado histórico da “Igreja” foi algo tão poderoso, e continua a ser, que, para muitos, parece que a mensagem de Jesus falhou; especialmente agora, quando o mundo se torna pós-cristão; ou seja: torna-se pós-constantiniano.

Jesus, no entanto, nos disse que a Igreja estaria aqui; e que testemunharia; e que morreria; e que não desistiria; e que não seria enganada; e que não viveria de contabilidades de poder humano; mas da força do Espírito e do olhar do Reino instalado nos corações de todos os que viram e entraram no Mistério do Indiscernível do Reino de Deus em sua atual manifestação não disponível ao mundo.

Enquanto isto [...], Jesus disse que o Espírito sopra aonde quer... [...], e que ninguém sabe de onde Ele vem ou para onde Ele vai... [...]; mostrando-nos assim que a Igreja é um ente levado [...]; e que para além do que ela própria veja [...], existe o que somente Deus vê; coisas essas nas quais os discípulos têm apenas que crer; crer enquanto servem, amam, esperam, se entregam, se sacrificam; nunca se deixando vencer do mal, mas sempre vencendo, em suas vidas, o mal com o bem.

É, portanto, o espírito do mundo, de Satanás, do Príncipe que oferece poderes terrenos [...] — aquele nos lança em surtos de “vitória terrena da Igreja” sobre as aparentes forças da História.

É a mesma voz que se fez ouvir no “alto monte” ou no Capitólio Romano nos dias de Constantino [...] a nos falar que existe um mundo a ser “conquistado” pela Igreja de Deus!

Para a verdadeira Igreja de Deus este mundo, com seus poderes, é apenas o lugar da morte, do sacrifício, do testemunho, do amor não correspondido e do serviço por nada; exceto pela obediência; posto que assim como foi com Jesus seria conosco; e isto conforme Ele próprio disse e repetiu em inúmeras formas e ocasiões diferentes.

Se esse paradigma diabólico, completamente presente nas falsas esperanças, no discurso e na prática da “igreja”,  não der lugar ao que Jesus disse que seria e aconteceria [...], até mesmo a verdadeira Igreja terá seu poder minado pelo engano; havendo cada dia menos luzes de esperança e gosto de sal no testemunho do amor neste planeta marcado para o Grande Dia da Revelação.

Eu, porém, enquanto escrevo estas linhas, sinto o vento, e percebo seu bulício; por vezes mudando de direções [...], mas sinto que ele sopra em sua independência, visto que vejo o mover das árvores; sim, balançando ora pra lá, ora pra cá; e, algumas vezes, como agora, aparentemente parando de moverem-se... Mas eis que outra vez vem o vento!... Agora uma brisa sob meus pés... Sim! O mover não cessa nunca!

Desse modo entendo meu lugar na vida e no mundo segundo Jesus!

Sim, não sou o Gerente do Vento; nem sou o indicador do seu caminho; nem tampouco aquele que sabe quando e de onde ele virá. Não! Apenas o constato. Apenas o aproveito. Apenas celebro sua soberania invisível. E, conforme disse Jesus, apenas creio que do mesmo modo é todo aquele que é nascido do Espírito.

A Palavra de Jesus, portanto, não falhou; ao contrário, contra todos os esforços miseráveis, armados e dispostos a recorrer a todos os poderes deste mundo [conforme o tem feito o “Cristianismo” e ou a “Igreja” em todo este tempo], a Palavra de Jesus se impôs e prevaleceu; posto que ela teria falhado justamente se o Caminho dos Discípulos tivesse se tornado a Política Global deste Planeta; ou seja: se a ONU dissesse que é da “igreja” que procede a honra, a glória e o poder. Então era sinal de que o reino do anticristo estaria de fato definitivamente instalado.


Nele, que não nos deixou enganados quanto ao que fosse vitória e sucesso no andar do Reino, do Evangelho e da verdadeira Igreja de Deus,


Caio
15 de janeiro de 2012
Lago Norte
Brasília
DF

quinta-feira, 28 de junho de 2012

QUAL É O BEM DO EVANGELHO EM SUA VIDA?






Porque eu digo que creio no evangelho

— é a pergunta que todo discípulo de Jesus deve se fazer de vez em quando. Isto porque em fases distintas da vida a gente mantém diferentes perspectivas de quem é Deus para nós, quem somos nós para Ele, e quais são nossas motivações em relação a Deus no que diz respeito ao nosso modo de viver a fé, e, sobretudo, de senti-la e expressa-la no mundo.

A maioria das pessoas pensam que a única maneira de servir a Deus é se dedicando às programações da igreja, a ter gosto por reuniões de oração, e não ter vergonha de “falar de Jesus” a todos os que encontrarem.

O trabalho na vida normal é, para tais pessoas, uma coisa suportável, na melhor das hipóteses. Mas, a maioria, sofre o trabalho, pois gostaria de servir apenas a causa de Deus, que é fazer a igreja crescer, e, assim, dominar a sociedade com a influência dos cristãos.

Enquanto isto, entre os pastores, a motivação para pregar a palavra vai da admiração aos “maiores” líderes, ao querer ser útil a Deus, ao ter um nome entre os grandes, ou porque o indivíduo sente que se ele não defender a verdade, ela corre o risco de se perder na Terra.

Sem falar daqueles que pregam apenas porque precisam faze-lo, pois servem-se desse expediente a fim de ganhar dinheiro.

Não podemos esquecer também do pastor cansado e desanimado, e que prega gemendo, pois, caso pudesse viver sem o dinheiro da igreja, ele mesmo se aposentaria de tudo.

Existem ainda os sinceros, e que pregam com amor aflito e angustiado, pois crêem que se não anunciarem a Jesus, e não plantarem novas igrejas na Terra, o mundo inteiro está perdido, posto que Deus está de mãos amarradas e sem voz no planeta, a não ser que nos disponhamos a falar e agir por Ele.

De um modo geral, a maioria se acostumou a ser “de Jesus”, e não tem nem coragem de perguntar se aquela fé é verdade na vida dele, se realiza em sua existência o bem prometido.

Quando a existência vai se mostrando tão aflita como a de qualquer outro ser humano da Terra, e quando o “benefício espiritual” não se manifesta como amor, alegria, paz, bondade, longanimidade, mansidão e domínio próprio—mas sim como infelicidade, amargura, ânsia persecutória, juízos e frustrações; então, a honestidade manda perguntar: O que está errado? É o Evangelho que não é verdade? Ou será que eu, na verdade, é que não vivo em verdade o que é o Evangelho?

Tem gente que pensa que o Evangelho é o corpo de doutrinas da igreja e seu modo de entender o mundo. Tem gente que pensa que o Evangelho é algo para se ensinar, pois, seria pela propagação da informação que a salvação visitaria a Terra.

Tem gente que pensa que o Evangelho é a igreja, de tal modo que ele mesmo é capaz de se referir ao crescimento da igreja no país como o “crescimento do evangelho”.

O Evangelho é a Boa Nova.

O Evangelho é a certeza de que Deus se reconciliou com o mundo, em Cristo; e que agora os homens podem se desamedrontar, pois foi destruído aquele que tem o poder da morte—a saber: o diabo—; bem como foram libertos aqueles que estavam sujeitos à escravidão do medo da morte por toda a vida.

Quem crer está livre, e pronto para começar a andar na paz. Ora, para se ter prazer em pregar o verdadeiro Evangelho—sem medo, sem ameaça, sem barganha, e sem galardão quantitativo, mas apenas qualitativo—, só se o coração estiver grato e cheio de amor.

Ou seja: só se o indivíduo estiver tão pacificado na Graça, que pregar seja algo tão simples quanto o é para uma mangueira dar seus próprios frutos.

Quando o Evangelho é a Boa Nova que livra do medo, então, anuncia-lo só é possível como puro e simples fruto da alegria e da gratidão contente.

Eu acredito no poder do amor, da alegria, da gratidão e do contentamento. Por tais realidades espirituais é que a Boa Nova pode ser vivida e anunciada sem que a morte participe da motivação.

A alegria de conhecer a Deus é o único motivador que deve motivar a anuncio do Evangelho. Portanto, quando o benefício do Evangelho se manifesta como bem espiritual—e que se expressa como amor, alegria, paz, bondade, benignidade, longanimidade, mansidão e domínio próprio na existência do indivíduo—, então, o seu anuncio não é nunca uma forçassão de barra, mas algo próprio e simples, a gera alegria nos corações dos que ouvem, pois, antes de ouvirem, eles mesmos viram o Evangelho na existência daquele que o anuncia.

O Evangelho é Verdade. Mas só é ele que está sendo anunciado quando o resultado realiza libertação interior, pacificando o coração.

Do contrário, tem o nome de evangelho, mas não é o Evangelho mesmo.

Tem gente que se acostumou à miséria de uma existência sem paz e sem libertação do medo, e continua pensando que isto tudo é culpa do diabo, ao invés de perguntar a si própria: Será que aquilo no que creio é de fato o Evangelho?

Preste atenção: o diabo tem poder, mas não tem nenhum poder quando o
Evangelho da Graça liberta a consciência humana do medo.

Deste dia em diante o diabo não participa mais de nossa vida, nem quando a gente peca. Isto porque uma coisa é pecar sem consciência da Graça. Outra é pecar com a consciência da Graça.

No primeiro caso estabelece-se tristeza amargurada. No segundo caso, surge a renovação da consciência, brotando o arrependimento feliz e cheio de produções de vida.

Quando o Evangelho é crido, o medo se vai. Então, o diabo perde seu poder.

Assim, sem medo, o homem pode começar a si negar, pois ele já não tem que negar quem é.

Assim, assumindo quem ele é, morre o “si-mesmo”, que é quem ele não é, mas apenas “demonstra ser”.

Aí, neste ponto, começa a jornada de uma crescente libertação na verdade.

E o resultado é um mergulho cada vez mais profundo na paz que excede a todo entendimento.

Cristãos nervosos afligem-se com doutrinas.

Discípulos de Jesus usufruem a verdade como libertação e pacificação.

Onde há o Evangelho, aí há paz!

Caio

quarta-feira, 27 de junho de 2012

SE EU QUISER FALAR COM DEUS...




Eu preciso de ti, oh Pai!
Sou pequeno demais
Me dá a tua paz
Largo tudo para te seguir!

Entra na minha casa
Entra na minha vida
Mexe com minha estrutura
Sara todas as feridas
Me ensina a ter santidade
Quero amar somente a ti
Porque o Senhor é meu bem maior
Faz um milagre em mim!

***

Em relação à Música, quem me conhece sabe que não curto muito essas letras "pobres", sem reflexão, sem mistério, sem novidade, sem criatividade.
Essa, parcialmente transcrita acima, é uma letra desse tipo que em nada me acomete. Passa batido e sem batida em mim.

Eu a ouvi até retumbante, daquele jeito que os instrumentos de sopro transformam as canções. Estava toda osquestrada por muitas vozes, acusticamente poderosa... Foi há umas semanas atrás, numa catedral católica da cidade, durante o casamento de uma amiga querida. Sim, gostei e apreciei, mas nem assim eu a "senti" mais intensamente... Coisas do temperamento, sei lá...

Por outro lado, quando estou orando, seja no quarto mais íntimo da alma ou nas "estações" de pouso público - e mesmo nas calçadas da vida por onde caminho cantarolando - é exatamente como nessa música que me expresso! É "bobo" assim, simples assim!

Ora, como ser criativo diante do Criador?
Só se eu for um tolo ou não acreditar estar realmente falando com Ele! Porque quem cria é Ele, e eu sou "feitura Dele"
Como lhe falar alguma novidade?
Ele tudo sabe e é a Boa Nova em Pessoa!

Não fico filosofando quando estou orando! Acho doentio alguém orar a Deus procurando termos e verbos.
Orar não é "português", e "embria-guez", é a gente feito embrião no ventre!
Oração não é mentalização, é desejo! É vontade de mamar, é criança balbuciante, pedinte, que não sabe se expressar senão com gestos e olhar!

Digo-lhes que, na oração, a mente pode até entorpecer, e o mais lúcido dos homens vira alucinação, fica embriagado! Se funde com o sagrado e não entende nem o que fala, em verbalizações inexpremíveis...

Daí que a oração não é linguagem intelectual, é testificação do enlace no espírito.
É derrame, é alma exposta, é gemido, é dor, amor, lágrima, sorriso... É mesmo básico, infantil, sem nada decorado, nada embelezado. É quem sou, como sou; é ânsia de vê-Lo agindo em mim, por mim, comigo!
Às vezes, é só gratidão, outras vezes é apelo, rogo, insistência, vômito! É, contudo, sempre súplicas com ações de graças!
E, às vezes, é só respiração, transpiração, inspiração, des-petrificação, plenificação e silêncio!

Todavia, dependendo de como estou, nem dentro de um mosteiro de quietude consigo concentrar-me em orar, de tanto que a mente perturbada circula acelerada pelos corredores desse labirinto que é viver agarrado a projetos e projeções. Eu tento. Não consigo. Parece que tenho mais o que fazer... Então, só elevo meus olhos para os "montes", na direção que Quem pode me prover socorro!

Mas quantas outras vezes, dentro do carro-que-sou-eu, em meio ao trânsito da urbanidade carregada, eu não "subi" e me agarrei Nele? "Meu Pai, me leva daqui... Me coloca em teus braços, me faz dormir... Acaba logo com isso, tenho saudades de ti! Ai... Ai.. que saudades de ti! Da glória que terei junto a Ti...Saudade de tudo que eu ainda não vi... De voltar de onde eu parti... e pela primeira vez, conhecer esse lugar! Lugar que agora, por ora, habita em mim! Ah! Tu habitas em mim... já ia me esquecendo... Cristo em mim, esperança de Glória!... Meu Bem Maior... Faz um milagre em mim..."

Pois é.... manos queridos... Se alguém me testemunhar orando verá a breguice que é fazê-lo!
Nas Escrituras, não vejo quem esteja orando como se a Deus estivesse pregando... Nem profeta, nem apóstolo, nem salmista e nem o Messias!

Afasta de mim esse cálice, Paaaaiiiii - Foi Jesus sendo gente!
Senhor, não sei falar, sou pesado de língua... Foi Moíses, tentando desviar-se
Tá bom, Senhor, eu vou! - Foi Ananias já cedendo...
Ai de mim que vou perecendo...Foi Isaías vendo o que não podia...
Senhor... sou apenas uma criança...Foi Jeremias, que se conhecia
Afasta-te de mim, pois sou pecador... Foi Cefas querendo Deus
Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo!... Foi Cefas, feito Pedro
Eu encontrei teus altares, Deus meu e Rei meu! - Foi Davi todo seguro
Dá-te pressa em acudir-me!!! Levanta-te, Senhor!!! - Foi Davi todo inseguro
Ora, vem Senhor Jesus! - Foi João, fechando o Livro
Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito - Foi Jesus fechando a História!


Tolices são orações enfeitadas em línguas in-devotas. Porque rasgos de expressões intelectuóides não cabem dentro de orações de verdade!
Orações de verdade só cabem dentro de ternos rasgados feito o Véu em devo-ção, sujos no pó e na cinza e lavados no Sangue, novo e vivo Caminho por onde a alma entra nua e ousada, com a fronte curvada e mesmo assim elevada, sempre assumida, sempre confessada!

Oração é a ação de adorar!
É ador-ação.
É música mesmo, cantada ou não!
Das mais tolas e sinceras... 
E termino orando por quem já perdeu essa dimensão:

"Pai, não deixa não..."


Marcelo Quintela

terça-feira, 26 de junho de 2012

GRAÇA: VOCÊ ACHA QUE É MOLEZA?




GRAÇA: VOCÊ ACHA QUE É MOLEZA?



Ora, irmãos, não quero que vocês sejam ignorantes quanto ao fato que nossos pais, no Êxodo, estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar.
Assim, podemos dizer que todos eles foram batizados, tanto na nuvem como no mar; e isto no que dizia respeito a Moisés.
E mais: podemos dizer que todos eles comeram de um pão espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia...
A pedra era Cristo!
Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto.
Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.
Não se tornem, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se.
Também não pratiquemos a promiscuidade, como alguns deles o fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil.
Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas mordeduras das serpentes.
Nem tampouco murmuremos, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador.
Ora, estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.
Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.
Não nos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejamos tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, nos proverá livramento, de sorte que a possamos suportar.
Portanto, meus amados, fugi da idolatria.



Paulo nos diz que o caminho do Evangelho, que é caminho de Graça — é bondade e favor de Deus para que vençamos as tentações da jornada.
Não nos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejamos tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, nos proverá livramento, de sorte que a possamos suportar.
No entanto, Paulo também nos diz que as conseqüências de se querer a Graça de Deus comoGraxa de Deus, são claramente demonstradas pelo caminhar do povo de Israel pelo deserto, conduzidos por Moisés.
A ênfase de Paulo é em “todos”. Todos receberam os benefícios. Todos saíram do cativeiro. Todos foram batizados tanto na chuva da nuvem [conforme o salmo] como no passar pelo mar sem se afogarem. Todos tomaram a “ceia do maná” e todos beberam da água viva que escorria da rocha. Mas a maioria deles não se fez agradável a Deus pelo seu modo de andar...
Paulo diz que os “sacramentos” da eucaristia e do batismo em nada os ajudaram, pois, a vida com Deus é feita de sacramentos de obediência e não de ritos.
Então o apóstolo adverte dizendo que houve algumas coisas no coração dos que peregrinavam pelo deserto e que são as mesmas coisas presentes em todos nós, os que caminhamos pelo chão árido desta terra de peregrinações.
Cobiçaram o que não tinham como se fosse obrigação de Deus libertá-los para uma vida de hedonismo. E faziam isto como fantasia, posto que desejassem agora os alhos e cebolas do Egito, dizendo: Como era boa a nossa vida na terra do Faraó!
Tornaram-se idolatras não por causa exclusivamente do culto ao Bezerro de Ouro, mas, sobretudo, diz Paulo, em razão de que a mente deles se tornara um altar de idolatria do prazer e do deus do imediato; posto que apenas pensassem na vida como um acontecimento de comida, bebidas e prazeres. E, segundo Paulo, este é o espírito mais sutil da idolatria: a idolatria do imediato e dos sentidos. É a tal vida feliz que só é feliz na confusão dos muitos folguedos o tempo todo. No tédio de Deus, então, devaneio...
Além disso, entregaram-se à promiscuidade, especialmente depois de pensarem que como Israel havia vencido a macumba de Balaão, agora, então, estavam livres para a promiscuidade; posto que se Deus os amava, como aparentemente demonstrara protegendo-os da “mandinga do Bruxo” — então, pensavam: “Se estamos livres da mandinga do Bruxo, estamos livres para pegar a mulher dos nossos amaldiçoadores!” Assim, agora, na confusão mental deles, a Graça era um sinal de que estariam livres para tudo. Portanto, mergulharam na promiscuidade.
Por último Paulo adverte contra o espírito de insatisfação e de murmuração, dizendo que tal espírito suscita na existência o poder do exterminador.
Assim, sem delongas, Paulo diz:
A Graça que cobre o pecado e o pecador, cobre todo pecado e todo pecador que deseje viver livre do pecado como escravidão; mas não é um documento de alforria das conseqüências da vida; como se por causa da Graça alguém recebesse permissão a fim de que viva como quem morra...; e, ainda assim, colham-se os frutos que somente colhem os que vivem como quem vive, segundo Deus.
Desse modo, Paulo lhes diz:
Vocês pensam que porque são de Cristo, foram libertos dos ídolos explícitos, receberam batismos, tomam a eucaristia do Corpo de Cristo e bebem da fonte da Vida — vocês ficaram imunes ao pecado?
Que nada! — diz ele.
E conclui:
Aquele que assim segue andando... crendo que  apenas porque tenha provado benefícios espirituais está livre para se entregar aos ídolos do coração: cobiça, volúpia, promiscuidade, hedonismo, alienação, auto-engano, murmuração, ingratidão, etc. — está caído no chão da vereda e não sabe.
Pode haver inflação de cultos, batismos, ritos, dízimos, ofertas, pertencimento ao grupo, etc. Mas se o coração não andar no caminho em Graça responsiva ante ao perdão e a libertação, esse fica no estado piorado do qual Jesus falou, sete vezes pior, e, também, põe-se no estado que Pedro descreveu como o de uma porca lavada que volta à lama. 
Quanto a nós, cabe a advertência:
Aquele que julga está em pé, cuide para que não caia!
E a razão é simples:
Não nos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejamos tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, nos proverá livramento, de sorte que a possamos suportar.

Nele, que nos tira de uma vida de cobra, comendo o pó da terra, e nos põe sobre os nossos próprios pés, andando como gente,

Caio
2 de fevereiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF

segunda-feira, 25 de junho de 2012

DE MENINOS À HOMENS EM CRISTO




DE MENINOS À HOMENS EM CRISTO

Ef 4: 1-16

Peço de todo o meu coração, eu, o prisioneiro no Senhor, que por causa de tudo o que lhes disse, andeis de modo digno da vocação com a qual fostes chamados. Andando, portanto, com toda a humildade, mansidão e bondade paciente; e sendo capazes de vos suportardes uns aos outros em amor; desse modo procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
Digo isto, meus irmãos, porque há um só Corpo e um só Espírito; assim como também fostes chamados em uma só esperança de vocação. Isto porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, é por todos, e age por meio de todos.
Saibamos, pois, que a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo.
Por isso foi dito: Quando Ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e derramou dons sobre os homens.
Ora, quanto a dizer que Ele subiu, é inerente a conclusão de que Ele também desceu às dimensões inferiores à terra. Assim, Aquele que desceu é também o mesmo que subiu muito acima de todos os céus, para plenificar todas as coisas.
E foi também para plenificar a Igreja que Ele deu à sua fundação dela os apóstolos e os profetas; assim também como foi Ele quem enviou graciosos anunciadores das Boas Novas, e outros com o coração acolhedor e cuidadoso de um pastor; e ainda aqueles que são mestres em sabedoria conforme a Palavra da Vida.
Ora, tudo isto Ele fez tendo em vista o aperfeiçoamento dos que em Cristo foram feitos santos, para o bem desempenho do serviço a Deus e aos homens; e para a edificação do Corpo de Cristo.
E assim será até que todos nós cheguemos à unidade da fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, à estatura de um homem feito; à medida da vocação de nossa humanidade e sua plenitude em Cristo.
Quando assim for... já não seremos como meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia e maquinação dos que seduzem para o erro.
Ao contrário, somente deixando de ser meninos e nos tornando homens conforme a mente de Cristo, é que estaremos seguindo a verdade em amor, para que desse modo cresçamos em tudo naquele que é o Cabeça do Corpo, Cristo; em quem todo Corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas; segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor.


Quem já leu toda a carta aos Efésios percebeu que todo o contexto que antecede o texto acima transcrito está repleto de uma coisa só: a alegria de Paulo quanto a ter recebido a revelação do “mistério de Deus, outrora oculto das gerações, porém agora revelado aos santos Apóstolos e Profetas no Espírito”. A saber: que em Cristo todos os bens convergiram, e que pela Graça de Deus nos foram doados; e de tal modo nos foram concedidos gratuitamente, que até a fé com a qual se faz apropriação deles—e de tudo o mais—, é também um favor imerecido; ou seja: pura Graça. Aquele que crê, crê porque lhe foi dado crer.

Desse modo, o desejo de Paulo é que essa revelação ilumine o coração, mude o entendimento, e promova uma Nova maneira de ser, ver, discernir, avaliar, pesar, medir, viver e servir.

Por isso ele começa o texto acima transcrito com um pedido encarecido, e que se baseava em tudo quanto ele antes havia dito.

Para Paulo aquela compreensão em fé deveria produzir uma ética existencial, e, de certa forma, também psicológica.

Daí ele falar não de condutas mensuráveis (mais tarde ele falará delas no capítulo 5), mas de atitudes.

Desse modo ele dz que a Dignidade do existir em Cristo deve gerar um coração aberto para aprender...uma alma que tenha “humus”...que seja humilde; ou seja: um solo fértil para toda boa semente. O humilde é ensinável, e acolhe o que é vida e verdade.

Ele prossegue falando de mansidão, que é a virtude do forte e potente, e que domina sua energia e seu poder, não o liberando para fora do curso da natureza da Graça. Ora, isto gera uma bondade paciente; ou seja: longânime.

Desse modo aprende-se a lidar com as diferenças, e o coração cresce em misericórdia e tolerância, pois o amor tanto dá suporte ao fraco, como também suporta as fraquezas dos mais fracos.

Ora, essa ética existencial é filha da compreensão da Graça (4-6). A Graça especial nos é comum, pois que comum, agora, é a Graça.

Isto porque a Graça que nos fez Corpo de Cristo é o resultado da obra da Redenção (7). O Cristo encarnado, morto e ressuscitado dentre os mortos... visitante de todas as dimensões inferiores...Ele mesmo levou “cativo o cativeiro”—todo o cativeiro, visto ter Ele vencido a morte!

Desse modo, sai o cativeiro e vem a Graça: dons são concedidos aos homens...sem mérito, mas por pura e inexplicável Graça (8).

Agora até abismo e elevação cumprem um papel na Graça. Não há mais dimensão alguma onde a Graça não possa se manifestar (9-10).

Para Paulo esse “derrame de Graça” tinha que produzir algo em nós...além de um leve alívio.

Esse derramar da Graça deveria nos tornar gente boa de Deus. Por isto Deus mesmo concedeu alguns dons para serem o Fundamento da Edificação da Igreja (apóstolos e profetas), e os dons que fazem os aplicativos da Palavra sobre o Fundamento Imutável, do qual Cristo Jesus é a Pedra de Esquina.

Os apóstolos e profetas aos quais Paulo fazia referencia já não se “repetem entre nós”. São como os pais das doze tribos de Israel. Hoje há apóstolos apenas quando alguém chega como “enviado” num lugar nunca antes visitado pela Palavra; e os profetas, ainda que alguns profetizem acerca do intimo e do futuro, a maioria é feita daqueles que consolam, exortam e edificam o povo de Deus na Palavra.

Sobre os demais dons mencionados pelo apóstolo, creio bastar o texto da paráfrase que fiz acima:”... foi Ele quem enviou graciosos anunciadores das Boas Novas, e outros com o coração acolhedor e cuidadoso de um pastor; e ainda aqueles que são mestres em sabedoria conforme a Palavra da Vida.”

O exercício sadio desses dons...especialmente os que Paulo mencionou...devem produzir aperfeiçoamento...melhor desempenho dos dons...serviço misericordioso...e edificação; ou seja: crescimento na consciência e no entendimento espiritual da vida. Daí tem que nascer o Novo Homem existencial e comunal (13).

A evidencia de que se está crescendo nesta direção de maturidade é que os meninos viram homens (14); a verdade e o amor se casam...e o ser ou a comunidade que experimenta esse casamento, então, cresce (15); pois que tal consciência na Graça gera a clara percepção de nosso “chamado”, de nossa “vocação”, tanto individual como também comunal.

E mais: essa consciência carrega o crescimento em si mesmo...pois é tal qual um corpo: em havendo saúde, sempre cresce (16).

A saúde do Corpo de Cristo é o amor. Sem amor não há saúde!

Assim, Paulo nos diz o seguinte:

Somente a consciência do mistério revelado e da Graça que nos foi concedida em Cristo, é que pode nos converter de um ajuntamento de meninos em uma Igreja adulta, madura e que cresce com naturalidade—conforme o corpo cresce: naturalmente; e a naturalidade desse crescimento só é alimentada pelo amor prático e efetivo!


Caio