quarta-feira, 18 de abril de 2012

Igreja entre aspas: somos pedra ou gente?


Prefácio do livro:


As aspas são as quatro paredes

Meu amigo Tuco Egg era uma bênção, mas agora não vai mais à igreja.

O Tuco costumava ser visto entrando na igreja com a família, dando aula na Escola Dominical, levando no carro abarrotado de adolescentes e mochilas para algum retiro, desenhando cartazes e imprimindo folhetos, organizando campanhas, promovendo jantares, sorrindo satisfeito nas confraternizações. Ele cantava, orava, dava ofertas e sentava-se naquele banco. 
Hoje é domingo e só Deus sabe onde anda o Tuco. Talvez esteja debaixo do sol num parque ou debaixo de uma cachoeira com a família. Talvez esteja ajudando a empurrar a lama para fora da casa de alguma vítima da enchente, ou ouvindo causos de um lavrador numa casinha de madeira no pé da serra. Talvez esteja molhando os pés no Nhundiaquara ou guiando filhos e sobrinhos ao topo do Anhangava. Talvez esteja descalço e de pijama, comendo torradas e tomando leite desnatado na mesa da varanda enquanto atualiza a Trilha no seu laptop. Talvez esteja dormindo até tarde. A questão é que não temos como saber.

Há dez anos, para caracterizar essa metamorfose diríamos que o Tuco anda “afastado da igreja”. Se o víssemos tomando cerveja num bar ou entrando numa boate nos sentiríamos livres para dizer, mais enfaticamente, que “está desviado”. 
Mas como insiste em continuar falando sobre Deus no seu blog, o Tuco parece ser o que alguns andam chamando de desigrejado: um cristão secular, sem vínculo institucional. Do mesmo modo que há organizações não-governamentais, há hoje em dia esses cristãos não-organizacionais. Conforme uma pesquisa recente, são cada vez mais numerosos esses que deixam a igreja formal para trás mas não abandonam – segundo eles; como de fato saber? – o seu compromisso com Jesus.O paradoxo essencial de pessoas como o Tuco é que tomaram a decisão de deixar a igreja de tanto que são apaixonados pela causa da igreja. Acabaram concluindo que a igreja formal não tem mais ou menos defeitos do que qualquer outra instituição, mas tem um defeito e um atrevimento que as outras não têm: o de alegar uma continuidade com o sonho de Jesus para o reino de Deus (venha o teu reino) na terra. Da minha parte, entendo bem como essa gradual percepção pode acabar levando alguém a trocar a igreja formal por uma empreitada com contornos menos definidos, com menos confortos e mais desafios. Quanto mais leio o Evangelho mais me convenço de que o sonho do reino é ao mesmo tempo muitas vezes mais ambicioso e muitas vezes mais modesto do que todas as igrejas dão a entender. E, se alguns de nós concluem que são chamados para viver no mundo, não é para sermos finalmente deixados em paz; é porque estávamos em paz dentro da igreja, e nada nos incomodava mais. Diante do mundo novo esboçado pelas parábolas do reino e pelo modo de vida do seu narrador, a igreja formal parece ter se conformado com pouco.*

O Tuco é um cara esperto e não ignora que há uma tentação de elitismo nessa história de decidir sair da instituição e tentar viver a vocação cristã fora da igreja. Pode sempre ficar a impressão de que saímos graças ao nosso entendimento superior ou a uma superior revelação; que nos foi concedido enxergar uma verdade mais elevada que à maioria dos crentes, simplórios demais para vislumbrá-la.  
Alguns de nós se debatem por anos na tentativa de resolver esse dilema. Mais simples seria ter tido uma história e uma lucidez como a de Simone Weil, que converteu-se e mesmo depois disso – ela diria por causa disso – recusou-se deliberadamente a afiliar-se a qualquer igreja. Weil intuía que os cristãos são chamados, pelo exemplo da encarnação, a uma plena identificação com o mundo e no mundo. Isso inclui abrir mão, na medida do possível, do que ela chamava de “patriotismo eclesiástico”:
De qualquer modo, quando penso no ato pelo qual eu me afiliaria à igreja como algo concreto, que pode acontecer num futuro próximo, nada me dá mais dor do que a ideia de separar-me da 
imensa e desafortunada multidão de descrentes. Tenho a necessidade essencial, creio que pode-se dizer a vocação, de andar entre homens de todas as classes e feições, misturando-me a eles e compartilhando de sua vida e perspectiva na proporção que a consciência permite, mesclando-me à multidão e desaparecendo no meio dela, para que eles se mostrem a mim como são, removendo todos os seus disfarces diante de mim. Isso porque desejo conhecê-los de modo a amá-los como são. Pois se eu não amá-los como são, não será a eles que estarei amando, e meu amor será irreal.

Creio que o Tuco concordaria que trocar os confortos da igreja formal pelo terreno não-mapeado do cristianismo secular requer uma insensatez semelhante e uma semelhante ambição. Não se trata de querer ser melhor do que ninguém, mas precisamente o contrário: trata-se de abrir mão, do modo mais radical que se possa conceber, do projeto de ser melhor do que qualquer um. É entender que o testemunho mais fundamental, que não se deve sonegar de ninguém, é o da humanidade compartilhada. Para usar uma expressão de Weil, é “desenraizar-se por amor ao próximo e a Deus”, assumindo voluntariamente o exílio anônimo, semglamour e sem trégua do homem comum. 
Se a hospitalidade é a virtude cristã por excelência, sua aplicação mais radical é sair finalmente do conforto da casa.

O lance é que para quem viveu desde sempre na igreja pode ser mais difícil desenraizar-se do que para Weil, que resistiu até o fim. E, de novo, esse passo representa uma verdadeira crise somente para os que sempre consideraram a igreja a parte mais essencial da vida, e portanto da vida cristã. Só se toma um passo como esse depois de um longo período de ruminação no deserto, depois de uma degustação lenta e agridoce dos Evangelhos, depois de uma avaliação corajosa de uma série de mecanismos que fazem parte da gente muito mais do que da própria instituição.

É essa repensagem que o Tuco faz neste livro, primeiro para si mesmo, mas também para quem quiser ouvir. Ele não quer ensinar ninguém a sair da igreja, mas quer que todos ponderem que a igreja, como indicada no Novo Testamento, deve incluir muito mais do que estamos acostumados a pensar. E se a igreja for um lugar de onde ninguém pode sair, mesmo se quiser? E se for uma graça estendida ao mundo, e não um projeto de seleção? E se a expressão “os portões do inferno não prevalecerão contra ela” for indicação de que só o inferno tem portões, e não a igreja? Se aspas são quatro paredes, ninguém deveria ser capaz de colocar paredes ao redor da igreja. Este livro quer levá-lo a um lugar de onde você possa vislumbrar isso.

Não é o Tuco que precisa de companhia; é o mundo.

Paulo Brabo

Campina Grande do Sul, outubro de 2011


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Não basta ser bom, importa ser misericordioso




Ele não se propôs fundar uma nova religião. Nem pretendeu que as pessoas fossem mais religiosas. Mas o que de fato quis, foi que todos, com a religião ou sem ela, fossem mais humanos, solidários, fraternos, justos, amorosos e misericordiosos.

Leonardo Boff





A Semana Santa nos convida a pensar sobre o sentido maior de nossas vidas à luz daquele que foi radicalmente humano e por isso também divino. Ele não se propôs fundar uma nova religião. Nem pretendeu que as pessoas fossem mais religiosas. Mas o que de fato quis, foi que todos, com a religião ou sem ela, fossem mais humanos, solidários, fraternos, justos, amorosos e misericordiosos.
Para Jesus não bastava ser bom. Tinha que ser misericordioso. Só assim seria plenamente humano. O Deus que anunciava era um Pai bom mas principalmente era um Pai misericordioso. Sentir a dor do outro, abaixar-se até o seu nível e compreender sua vulnerabilidade sem logo julgá-la, constituía a originalidade de sua mensagem.
Ela é atualíssima. Num mundo cruel e sem piedade, onde nações são arrasadas pela voracidade do capital que as mergulha em dívidas, como se faz urgente e necessária esta virtude escandalosa e tão radicalmente humana que é a misericórida.Precisamos trazer de volta a figura do Pai bom mas fundamentalmente misericordioso.
Se há um eclipse da figura do pai na sociedade moderna, há também uma saudade por sua volta, já testemunhada há séculos por Telêmaco, filho de Ulisses, na Odisséia de Homero: “Se aquilo que os mortais mais desejam, pudesse ser conseguido num abrir e fechar de olhos, a primeira coisa que eu quereria, seria a volta do pai”. Curiosamente esta volta é augurada pelo Cristianismo, numa página memorável de São Lucas ao falar da volta do pai ao filho pródigo.
Para compreender esta volta do pai, importa situar a parábola no contexto da prática e da proposta de Jesus. É um dado historicamente assegurado que Jesus circulava entre pessoas de má companhia e que comia com elas. Comer era considerado, para os critérios do tempo, um sinal de amizade. Naturalmente provocava escândalo entre as pessoas piedosas que passavam a criticá-lo.
Por que Jesus assumia um comportamento assim ambíguo? Responder a isso é identificar sua experiência espiritual e sua forma de entender Deus. Jesus experimentou um Deus que é Pai de infinita bondade e que, por isso, assumiu características de mãe: acolhe a todos, a bons e a maus e revela uma misericórdia ilimitada. A forma como Jesus expressa a misericórdia de Deus é ser ele mesmo misericordioso, coerente com o que aconselhava aos outros: “sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. Em razão disso, se misturava às pessoas de má fama para que, em contacto com ele, pudessem sentir a misericórdia divina.
Para facilitar a compreensão dos piedosos que se escandalizavam, narra três parábolas: a da moeda perdida, a da ovelha desgarrada e a mais conhecida de todas, a do filho pródigo. Cada parábola termina com estas palavras consoladoras: “alegrai-vos comigo porque encontrei a ovelha desgarrada, a moeda perdida e porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”.
Precisamos ser duros de coração e faltos de espiritualidade para não apreciarmos essa experiência de Deus como Pai de misericórdia. Como o amor é incondicional, incondicional é também a misericórdia. Nisso a parábola do filho pródigo é explícita. A novidade não reside no fato de o filho voltar ao pai, depois de haver esbanjado tudo e se encher de remorsos e de saudades. A novidade reside no fato de o pai voltar ao filho: ao vê-lo na curva da estrada, o pai corre-lhe ao encontro, lança-se ao pescoço e cobre-o de beijos. Não lhe cobra nada. Ao contrário, prepara-lhe uma festa.
Com isso Jesus quis deixar claro: Deus é um Pai materno ou uma Mãe paterna que sempre volta para os filhos e filhas, por malévolos que sejam, porque nunca lhe saem do coração.
As Igrejas, diferentes de Jesus, raramente se voltam para as pessoas para que façam uma experiência de misericórdia. Antes, continuam a aterrorizar as consciências com as chamas do inferno. Escolhem o caminho do moralismo, reforçando o medo que mantém cativa a liberdade e torna triste a vida.
Jesus mesmo denuncia essa atitude, presente no filho bom que ficou em casa, à sombra do pai. Ele se nega a voltar para o irmão. Quer a observância da norma e a aplicação do castigo. Esse filho bom é o único a ser criticado por Jesus. Para Jesus não basta sermos bons. Importa sempre voltar para o outro e mostrar amor e misericórdia.
Pai e filho voltam um ao outro: fecha-se o círculo e irrompe então a irradiação da plena humanidade.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br

Carta aos cristãos de hoje


CARTA AOS CRISTÃOS DE HOJE

Escrito 19/01/03


Antes de qualquer coisa quero dizer, em nome de Jesus, que sendo um pecador dentre todos os pecadores da Terra, nem por isso posso negar que Deus habita em mim, e que Dele recebo a Luz.

Dou a conhecer aos meus amados irmãos que encontrei e conheço a nosso Senhor Jesus Cristo—Deus Conosco—, a Quem Deus constituiu como meu Salvador por Sua exclusiva Graça, hoje e para todo o sempre. Amém.

Encontrei com Ele porque tudo procede Dele, e Nele eu sou. Pois antes mesmo de haver sido qualquer coisa criada, Ele mesmo se entregou como oferta por toda a Sua criação, sem que ainda houvesse Cosmos: por isso só Ele é Deus!

Ele era, Ele é e Ele há de vir. Eu que nada sou, sempre fui Nele, antes de eu mesmo ser.

E o que há de vir, só virá porque antes que qualquer coisa houvesse, Ele se entregou como oferta de Graça pela criação que ainda estava por vir.

Por isso irmãos, quero dizer que segundo a muita misericórdia de Deus nosso Pai, recebi de nosso Único e Soberano Senhor, a missão de informar a todos que não há outra maneira de se enxergar a História se não à partir da Eternidade.

Digo isto irmãos, porque sei para muitos de vocês parece haver Deus falhado na realização de Sua promessa de criar para si mesmo, na História, uma noiva pura, sem defeito e sem mácula: a Sua Igreja; a qual haveria de ser percebida pelo mundo como luz; e pela terra como sal.

Tivemos, irmãos, o tempo histórico linear que houve entre referências históricas tão majestosas em fé como de Abrão e Paulo, em seus intervalos históricos. Muita coisa aconteceu entre as existências de Abraão e Paulo; pois dois mil os separaram um do outro!

Somos todos História, irmãos!

Dois mil anos nos separam, amados irmãos, do dia de Pentecoste; e, honestamente, aonde fomos? Para frente? Como?

Sim! Mostrem-me um único tempo de duradoura prevalência histórica da verdade sobre as aparências e da Graça sobre a Religião e as Leis?

Para muitos parece haver Deus falhado; e é como se o Evangelho tivesse ficado sem o devido testemunho de sua verdade.

Amados, nunca houve uma única geração que tenha visto o pleno testemunho da Palavra encarnada pelo Povo de Deus desde a nossa Queda, no Éden.

Até mesmo a própria densidade histórica daquilo que era igreja—os hebreus, os israelitas, os judeus, os judeus cristão de Jerusalém, e as igrejas dos gentios—sim! mesmo entre eles nunca se viu a compreensão de que havia alguns princípios em operação no fenômeno histórico; sendo que um desses princípios pré-determina, historicamente, que alguns outros princípios aconteçam em cadeia e como seqüência; mantendo-se uns aos outros infindávelmente em operação, até que venha o Fim-Começo de todas as coisas, quando Aquele que estava no Principio oferecendo-se a Si mesmo por todos nós, haverá de dar plenitude a todas as coisas.

Foi também por isso que Ele se Encarnou em Jesus; realizando pela Sua Histórificação a manifestação daquilo que Ele mesmo já havia realizado pela Sua própria criação; oferecendo-se a Si mesmo por nossos pecados; visto que, quem nós somos também pré-existia Nele.

Por isso Ele é nosso Deus.

Ele é o único que é Luz, e Nele não há treva nenhuma, pois para Ele as trevas e a Luz são a mesma coisa. Ele não mente porque para fora Dele não há realidade.

Sim! por isto Ele se Encarnou, a fim de dar a Si mesmo a conhecer ao mundo—começando por aqueles que historicamente abrigavam o clarão da Promessa, os filhos de Sete, filho de Adão; chegando aos hebreus; e, posteriormente, também aos cristãos; como hoje tão claramente se vê.

Ele determinou que a História seja compreendida somente à partir de Seu final, visto que, para Ele, o final é o começo.

Por isto Ele é o alfa e o Omega. O Princípio e o Fim. Pois assim como para Ele as trevas e a luz são a mesma coisa; também determinou que o princípio seja o fim e o fim o princípio. Visto que nada há mais próximo para o nosso senso de percepção da história que o próprio princípio; daí a Nova Jerusalém ser uma versão da eternidade “atravessada” pelo tempo, visto que lá o Éden também se faz presente.

Os elementos do Princípio estão presentes no Fim, pois o Princípio e o Fim são a mesma coisa. Almejamos o Paraíso por que almejamos o Futuro com os suspiros do Passado.

Éden e Nova Jerusalém são as nossas possíveis linguagens humanas para falar que Ele é o Princípio e o Fim; o Alfa e o Omega; Aquele em quem, tudo e todas as coisas subsistem; inclusive esse meu ato de escrever.

Deus é!

É Deus!

Portanto, a pregação de que Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, era também a declaração de que a própria História jamais será discernida em seu estado de Queda e de Repetição, senão à partir do Cordeiro.

Sim! só é possível tolerar a História à partir dessa metafísica.

Tudo começa com Aquele que é, e que se deu; que criou e que deu Sua própria Vida para criar; e que amou a ponto de se entregar, sendo Ele mesmo Deus. Isto nos foi revelado para que soubéssemos que toda manifestação de Deus naquilo que chamamos História é também a revelação de como a História enxerga Deus, pois eis que Ele veio para o que era Seu, e os Seus não o receberam. Este é um fatídico Princípio Histórico.

A História nunca verá a Deus no Ato da Manifestação; visto que ela só se alimenta do Passado.

O Passado é o único bem da História, visto que, o Presente acontece sem o Seu reconhecimento—afinal: os Seus não o reconhecem.

Quando o reconhecem, então, já virou História; e já está perdendo o momento imediato da Revelação e da Iluminação de Deus, visto que a primeira é experimentada de dentro para fora; e a segunda, de fora para dentro—digo: como experiências.

Assim, a única maneira de se entender a História e a nós mesmos, é pela modificação de nosso vício no pensar, e não deixarmos jamais de nos renovar na nossa mente; discernindo sempre a centralidade e essencialidade do Espírito da Graça—que é a compreensão de que Ele ofereceu por nós antes de todas as coisas serem criadas, a fim de que nos mantenhamos “hebreus”; ou seja: seres em permanente estado de impermanencia; para que caminhemos em fraqueza e em quebrantamento: vendo, sem poder fazer enxergar; amando sem poder provar; discernindo sem se fazer compreender; ouvindo sem conseguir se fazer entender; e crendo sem ser capaz de se fazer impor.

Amados, esse é um principio dos mais importantes. Se alguém não crê que antes de haver Luz houve Cruz, ninguém poderá discernir a Realidade, mas tão somente a História (que já Passado). E a História já não mostra a Realidade, visto que esta acontece sempre em extremo adiantamento em relação à Compreensão da História, que não consegue ver o Dia Chamado Hoje.

Por isto, Ele veio para os Seus e os Seus não o receberam e nunca o receberão.

Meus irmãos, se fizemos o que fizemos com a mensagem histórica do Evangelho de Jesus, por que nos espantarmos com qualquer outra coisa na História?

A História só é vista como Realidade para aqueles que Nele vêem a Realidade do Hoje como História. Embora aqueles que Hoje já têm esse discernimento só venham a ser conhecidas muito tempo depois.

Os profetas nascem da incompreensão!

Para esses, os profetas, a História ergue Pilares Póstumos, conforme disse o Cordeiro, o Filho do Homem, nosso Senhor e Deus, Jesus Cristo, referindo-se aos escribas, fariseus e autoridades religiosas.

E por que é assim?

Para que ninguém se glorie! E para que ninguém tente separar o Joio do Trigo. Na história os irmãos se reconhecem, mas a História também não consegue reconhecê-los.

A verdadeira Igreja jamais será discernida em plena visibilidade histórica, visto que a Igreja que a História vê, já não existe, pois a História só vê o passado.

A rejeição de Deus em Cristo é o testemunho de que a História tem que ser enxergada à partir da Palavra e não a Palavra ser entendida pela História!

Deus encerrou todos na ignorância e nos deixou ver apenas que cada geração, no máximo, enxerga para trás. Somente a Revelação abre nossos olhos para que enxerguemos um profeta Hoje.

Ora, isto acontece por causa do princípio da Impermanencia por Deus estabelecido. Nosso amado irmão Paulo fala disto em sua Epístola aos Romanos, nos capítulos 9 a 11. Deus cega a uns para que outros enxerguem. Até que os que pensam que vêem fiquem cegos pela sua presunção de visão; então, é hora de outros enxergaram.

É por esta razão que aquilo que é elevado diante de Deus sempre é abominável entre os homens, e vice versa. A História não enxerga a Realidade enquanto esta se mostra como Hoje.

Daí nosso Senhor ter dito que é preciso perder hoje para que se venha a ganhar no futuro. A existência profética acontece dando este testemunho da verdade.

Deus deu aos santos apóstolos e profetas no Espírito, aqueles que foram historicamente chamados pelo Senhor Jesus, uma importância histórica inigualável. Os demais apóstolos que vieram depois foram apenas “Vocadores Históricos de um Momento”, visto que apenas aplicaram a Luz recebida pelos apóstolos de Jesus aos novos contextos de seus próprios dias.

Entendemos História como Princípio, mas Hoje só nos é possível discerni-la no espírito.

Esse princípio da impermanencia deflagra o principio das alternâncias. As lutas entre Caim e Abel; Ismael e Isaque; Esaú e Jacó—apenas confirmam esse princípio, e que está presente na História até os dias de hoje, e estará para sempre.

Deus definiu que assim seja, visto que, num mundo caído, a saúde vem dos movimentos que desestabilizam.

A tragédia desse princípio é que ele estabelece a rejeição “natural” da Graça; a rejeição da Cruz, visto que a História, no máximo, reconhece a Crucificação, mas a Cruz só se realiza como Hoje.

Assim, temos também que admitir que os Atos dos Apóstolos carregam a Palavra, mas não a contêm em totalidade, visto que a História contatada já era passado, e a Palavra é sempre Hoje.

Pensar diferente seria estabelecer a total Prevalência da História sobre a Palavra?

Pensar diferente faz com que “cultuamos os apóstolos”, mas não nos habilita a enxergamos a sua palavra, visto que confundimos os apóstolos e seus Atos com a Palavra de Deus, que era, é e sempre maior que seus portadores.

A Palavra só se Encarnou uma Única vez: em Jesus Cristo. Antes e depois Dele ninguém encarnou a Palavra.

Pois todos pecaram e todos carecem da glória de Deus!

Ora, então você pergunta: Qual a vantagem de saber de tudo isto?

Não se pode pretender nada, senão já se obriga o Presente—o Momento—a servir por antecipação a própria História. Além do mais, só houve Um que sabia, e decidiu entregar a Si mesmo ao Momento, a fim de nos salvar para toda a eternidade. Ele é Aquele a Quem a História não reconheceu de modo algum; mas a quem alguns discerniram por Revelação.

Nisto reside o mistério da eleição, ainda que em Deus a eleição não é um mistério, mas uma confissão de liberdade e sabedoria.

Ora, sendo todas as coisas assim, devo dizer apenas mais uma coisa:

Ele estabeleceu que a Revelação aconteça no Momento, pois somente pelo Espírito Santo alguém pode reconhecer a Jesus, não como Persona Histórica, mas como Cordeiro, Deus nosso, o qual seja bendito eternamente. Amém.

E o Espírito fala no Momento, no Dia Chamado Hoje!

Hoje, pois, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações!

E se alguém quer andar com Ele, aprenda com a História, sirva-se dela como revelação de como cada geração perde a Revelação por cultuar o Passado: a História.

Que a Graça de Deus guarde a todos nós!

Que a Palavra eterna nos fale Hoje!

E que o Verbo seja a Palavra de Hoje e sempre!

Nele,

Caio


terça-feira, 3 de abril de 2012

As criações artificiais também mudam a natureza da alma humana!


AS CRIAÇÕES ARTIFICIAIS TAMBÉM MUDAM A NATUREZA DA ALMA HUMANA!

Quando meus avós paternos se conheceram na Bahia ela [minha avó] era filha de uma família tradicional de ascendência francesa, e ele era um amazonense criado no interior do Estado, no meio da floresta, embora educado, culto e refinado nos saberes acadêmicos.

Naquele tempo isso era obra de “padrinhos prósperos”, e que levavam a sério a educação de seus “afilhados”. Ora, meu bisavô era um homem rude, embora inteligente, e, portanto, desejava que seus dois filhos, João e Maria, gerados quando ele já passava dos 70 anos fossem bem educados.

O velho viveu até aos 104 anos e morreu por decisão eutanásica de não se alimentar, pois dizia que estava cansado de tantos anos, ainda que não tivesse jamais ficado doente, enxergasse bem e não sofresse de nenhum achaque da idade, mas, dizia que para ele, dera... Achava que vivera de-mais... Era bastante!

Todavia, como não possuísse meios para educar os dois filhos em um centro mais avançado, entregou-os aos cuidados de um compadre de mais posses. Minha bisavó morrera cinco anos após o casamento com o velho de setenta e poucos...

Quando chegou o tempo da educação acadêmica formal meu avô mudou-se para Salvador, onde conheceu minha avó. Ela rica, e ele pobre, porém, culto.

Uma vez formado, ele tinha que voltar ao interior do Amazonas a fim de cuidar do Seringal/Castanhal da família. Ela, porém, enfrentava grande resistência por parte da família e de amigos citadinos quanto seguir aquele homem bom, mas duro. Ele foi. Ela ficou. Mas ficaram amarrados um ao outro pelo amor e pelo compromisso. Ele prepararia tudo... Então ele voltaria para busca-la.

Seis anos passaram... Apenas papéis de carta de amor os embalavam em seus amores e compromissos. Os parentes e amigos diziam que ela deveria pegar um dos muitos solteiros disponíveis em Salvador e salvar-se daquele amor por cartas. Ela dizia: “Ele me ama, e eu o amo. Ele é homem de palavra. Ele volta!” E voltou. Sim, voltou; e a levou; e viveram um grande e fiel amor, do qual nasceram 13 filhos; e também em razão do qual criaram muitos outros...; sem falar que transformaram sua casa/hospital num abrigo para centenas e centenas de desabrigados, marginalizados e doentes, conforme narro em meu livro “Confissões de um Pastor”.

Meu pai era o oitavo filho daquela prole. E como meu avô já sustentasse outros filhos estudando no Rio e Salvador, estando o Brasil na guerra em favor dos Aliados, e não havendo em Manaus Faculdade de Arquitetura [sonho de meu pai], mas apenas Faculdade de Direito; e mais: já estando meu avô muito doente, disse ao meu pai que ele deveria renuncia a Arquitetura e fazer Direito; e mais: incumbiu-o de ir, aos 18 anos, passar pelo menos 4 meses do ano no Seringal/Castanhal da família, no fim do mundo; pois ele era o único filho homem disponível para aquela missão da qual a família também dependia.

Ora, papai não contava com uma das pernas desde cedo, quando uma injeção mal dada destruiu o seu nervo ciático. Andava de muletas...

E lá foi ele... Fazia a Faculdade de Direito, e, nas férias, perdendo aulas, embrenhava-se na selva por quatro meses. Eram dias e dias de solidão. Remava semanas, sozinho, sem uma alma para conversar. Aguardava o “batelão” que recolhia a seringa e a castanha, algumas vezes esperando por até dois meses na beira de um rio, sem ninguém; contando apenas com a companhia dos porcos do mato, desejosos de comerem as castanhas, com uma infinidade de mosquitos carapanã, e com a doce presença dos escritores clássicos da literatura universal. No mais, tudo era chuva, desconforto e silêncio!...

Por seis longos anos lhe durou aquela rotina anual. E, dizia ele, nunca lhe foi uma pena, uma perda, uma supressão de vida. Ao contrário, para ele ali se haviam nele instalado os valores mais preciosos da rigidez, da seriedade, da paciência, do silencio e da renuncia amorosa.

Aquele era um tempo em que o tempo era subjugado pelo espirito do homem!
E mais: era o homem quem fazia o tempo e não o tempo ao homem!
Sim, o homem se sentia senhor do tempo e das oportunidades, e não o tempo/oportunidade era senhor do homem!

Que diferença faz isto para a formação do caráter humano. Apenas quem vive sob o senhorio angustiado do tempo/oportunidade/velocidade não pode compreender tais coisas!

Assim eram forjados no homem os sentidos de rigidez, de resistência, de interioridade, de felicidade na solidão, de resignação feliz e de alegria de ser no servir quieto e útil a outros mais do que apenas o eu-próprio.

Hoje tal coisa é inconcebível a um menino idiotado de 18 anos; que morre de tédio se por um dia não tiver celular, balada, festa, filme, chat, MSN, SMS, e um festival de contatos aflitos e ansiosos. Sim, tendo que estar conectado com tudo e todos; usando todos os aparatos tecnológicos da pós-modernidade...

Ora, tais coisas não são apenas midiáticas, mas, sobretudo, existenciais e psicológicas. De fato são demônios espirituais; os quais possuem a alma como se fossem naturezas eternas do homem.

Mas a vida não era apenas possível sem tais coisas. De fato era muito mais feliz. Sim; era mais humana, mais nobre, mais forte, mais digna, mais sóbria, menos carente, menos vulnerável, menos tudo de mal que vejo à volta!

Antes um menino era tratado como homem aos 13 anos; aos 18 anos ele era respeitado; aos 21 era um senhor responsável; aos 30 era um servo da vida; aos 40 era um ser sábio; aos 50 era um avô lúcido; aos 60 era um guia exemplar para muitos. Digo: caso ele já não estivesse adoecido pela urbanidade embabacada do Rio ou de São Paulo; ou de New York ou Paris.

Tenho muita pena desta geração de seres retardados, tementes do tempo, apavorados com a solitude, enfraquecidos diante de qualquer que seja a espera, ainda que de minutos!

Sim; uma geração sem paciência, sem renuncia e sem a alegria de certas resignações saudáveis e altruístas!

Digo isto reconhecendo que a minha geração, embora ainda não tecnológica ao extremo — somente vi televisão a primeira vez aos 10 anos de idade, em Copacabana —, já era fraca se comparada à do meu avô e à do meu pai.

Ainda assim [...] tínhamos que esperar um ano pra ver um filme ganhador do Oscar ou o mesmo período para ter acesso ao Album do Woodstok.

Embora tivéssemos visto o homem pousar em tempo real na Lua, e, logo depois, tivéssemos visto o Brasil ganhar a Copa de 70 ao vivo e a cores no México.

No mais, tudo demorava muito mais... Todavia, já havia uma ansiedade latente em todos nós. Sim, uma angustia quanto ao tempo [...] e que aparentemente não existia nos mais antigos.

No plano da existencialidade ainda se buscava conquistar uma menina por um ou dois anos... Sim, ainda se dava tempo ao encontro, ao cortejo, à resposta...

E mais: não era anormal quando se ouvia falar de uma mulher que havia sido capaz de amar apenas uma vez na vida, e, não tendo sido correspondida, nunca buscara outro alguém para tapar o buraco de qualquer que fosse a carência. Havia até certa dignidade humana em tal resignação afetiva, e ninguém fazia força para desencanar tal alminha devota ao amor singular não correspondido.

Ainda me lembro de que havia até homens capazes de tais entregas... Sendo isto não tão comum nos homens quanto nas mulheres; mas eles ainda existiam...; e não se recomendava a eles ou elas um analista a fim de se curarem de tal “mal”. Sim, posto que amor fosse coisa de amor mesmo; e não de ocupação quase afetiva e apenas social!

ORA, o que isto tem a ver com o fato de que a tecnologia humana altera a alma, fazendo com que invenções meramente tecnológicas se tornem significados existenciais?

Nos dias de hoje meu avô seria diagnosticado como um neurótico e minha avó como uma alienada afetiva. Meu pai seria um submisso que entregara seus sonhos às necessidades da família. E a mulher capaz de amar uma única vez, negando-se a entregar-se sem amor a outro homem, seria considerada uma obcecada e adoecida, carente de uma boa analise.

HOJE, com todos os chats e com o Facebook não há tempo a perder. O tempo é senhor da alma. Relacionar-se é uma imposição. Sim; não importa a razão! O que não se admite é a solitude como boa companhia jamais!

Então, tais facilidades tecnológicas se tornam parte da alma; e não existir para atender suas demandas ou ofertas é estar adoecido e descompassado em relação ao tempo.

Surgem então os carentes profissionais, os tarados existenciais, os esburacados sem cura, os que se sentem perdendo tudo se não estiverem conectados; ainda que isto seja num mundo de fantasia como um “Second Life”.

Todos os dias na Vem e Vê TV ouço os que falam comigo no chat, e, invariavelmente sinto as angustias de suas crises existenciais/tecnológicas.

Quanto mais velocidade..., mais perda de tempo; mais angustia; mais pânico de solidão; mais superficialidade; menos amor; menos valor; menos convicção ser; menos individuação!

São almas em bits, em gigas, em megabits!

Todavia, são almas sem paciência, sem espera, sem sobriedade e sem paciência. Sim, são almas em frames, em nano realidades, em perfis sem verdade, em contatos sem realidade!

Não há faces, há facebooks; não há vidas, há perfis; não há tempo, há urgências angustiadas!...

Em meio a isto tudo, como vencer as tentações?

Sim, pois, para vencer as tentações — que são miragens da realidade — a pessoa tem que ter calma, silencio, quietude, e, muitas vezes, renuncia e resignação!

Todavia, tais palavras não são compatíveis com as urgências em bits que são impostas sobre a alma. Tudo é instantâneo e nada pode ser paciente.

Tudo é realizável, e nada pede renuncia. Tudo tem que ser atendido, e, portanto, nada demanda resignação quieta e silente!

A alma se tornou um fenômeno quântico, e não mais um fenômeno do tempo e da espera. Mundos paralelos nos são oferecidos enquanto se resolve alguma suposta realidade demorada.

Assim, perguntoque alma humana pode sobreviver em sua originalidade natural em tempo de tanta artificialidade dada como parte da própria natureza humana?

Desse modo, essa coisa de Jesus de “tomar a sua cruz e segui-Lo” torna-se algo inviável em tempos de nanocruzes, de bitcruzes e de megaegos!

E mais: em tempos de tecnologização/midiática da alma, que amor quererá ser eterno?
Sim; quem amará porque ama, e não porque seja amado, ou desejado, ou apenas porque ame mais a conexão do que a pessoa em si?

O que posso dizer é que eterno é o buraco tecnológico que se abriu na natureza humana, posto que não seja humano tal vazio que se faz passar por carência humana na maioria de nós!

Quem ainda tiver tempo para ouvir, ouça; ou quem ainda tiver paciência para ler e pensar, por favor, considere!

Nele, que sempre fez tudo seguindo o tempo e a hora do Pai,

Caio
6 de janeiro de 2012
Copacabana
RJ

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Esta é a minha Igreja. Voce quer ser parte dela?




ESTA É A MINHA IGREJA. VOCÊ QUER SER PARTE DELA?

Quando Jesus disse que o “reino de Deus” ou o “reino dos céus” seria semelhante a [...] uma semente pequena que cresceria; ou como um fermento imperceptivelmente penetrante; ou como um tesouro escondido no campo; ou como uma pérola de grande valor, porém não disponível aos sentidos de todos; ou como uma candeia que iluminaria a todos os que estivessem na casa; ou ainda como o sal da terra — Ele apresentava, também, ao assim dizer, o paradigma do que a Igreja [a Dele] deveria ser como expressão visível do reino de Deus na comunidade humana.

Desse modo, as ênfases de Jesus são aquelas ligadas ao pequeno que cresce naturalmente a fim de acolher... [semente/árvore]; ao que tem como poder a pervasividade discreta [fermento]; a um valor indizível e que é conhecido apenas por quem o venha a conhecer em seu real significado [a pérola]; a uma riqueza escondida dos olhos de todos, e que não é objeto de propaganda [o tesouro oculto]; a uma luz para os da casa [a candeia; que ilumina a muitos se aumentarem as casas com sua luz no interior]; e à qualidade de gosto da presença dos discípulos, com poder de dar gosto divino onde estejam [o sal da terra].

Ora, em nenhuma dessas coisas a ênfase está na grandeza, na publicidade, na promoção ou na propaganda!

Ao contrário, a ênfase está na naturalidade do crescer, na pervasividade e na penetração decorrente de ser, no significado intrínseco da coisa em si, na sobriedade oculta de tal poder, que fascina por não ser massificado; na iluminação de grupos pequenos, como numa casa, e que altera primeiro os de dentro, e, aumentando o número de casas/povo iluminados, se faz visível ao mundo; e, sobretudo, a ênfase recai na qualidade essencial da natureza existencial dos discípulos, os quais, à semelhança do sal, podem dar sabor à vida dos que os cerquem, pelo fato de que eles têm tal gosto/sabor/qualidade em si mesmos.

Agora, compare isto com os modelos de “igreja”. Sim; com a ênfase na propaganda, no mercado, nos nichos, na promoção, no show da fé, na massificação sem rosto, no crescimento quantitativo, na artificialidade dos modelos de crescimento piramidal; ou ainda: compare com a venda do “Evangelho” como produto de salvação; sempre para fora; sempre para o mercado; sempre segundo a Coca-Cola, ou a Pepsi, e nunca segundo Jesus; o Qual, entre nós, fazia tudo com discrição, sem o afã das promoções; e que mais que frequentemente, pedia que Dele não se fizesse propaganda, ou que se O expusesse à publicidade; posto que Seu modus operandi cumprisse a profecia que dizia: “Nas praças [Ele] não fará ouvir a Sua voz!

O que isto significa? Que não se pode fazer propaganda de Jesus?

Sim; significa isto mesmo!

O Jesus propaganda é o Jesus do Mercado; é o Jesus do Bazar; é o Jesus da Venda; é o Jesus do Mundo!

Na realidade se diz que “a fama de Jesus corria por toda parte” e que “as multidões vinham ouvi-Lo de todos os lugares”.

Todavia, isso acontecia porque acontecia; porque era verdade; porque não se consegue esconder a luz; porque se o sal for jogado na terra nota-se a diferença pelo sabor; porque se a semente virar árvore as aves dos céus a encontram com naturalidade; porque o achar da “pérola de grande valor” faz aquele que a acha sair alegre com tal descoberta; porque o “tesouro escondido no campo”, uma vez que nele se tropece, faz o achador vender tudo e comprar o campo, a qualquer custo ou preço, tornando qualquer esforço apenas um ganho, uma alegria!...

Assim deveria crescer o “reino de Deus” entre os homens; e assim deveria ser com a Igreja dos discípulos de Jesus como expressão do “reino de Deus” na História.

Ora, isto faz sentido com a lógica de Jesus em tudo; embora difira radicalmente das lógicas humanas!

Sim; pois foi Jesus Quem disse que o grão de trigo tem que morrer a fim de dar muito fruto; que aquele que busca se salvar, perde-se; que aquele que morre, vive; que aquele que se humilha, será exaltado; e que é o pequeno que se faz grande!

O problema é que desde os apóstolos [...] pensar diferente sempre foi uma tentação. Tiago mesmo se vangloriava de ter “milhares e milhares com ele em Jerusalém”, e também que um grande número de sacerdotes do judaísmo [...] eram cristãos “zelosos da Lei de Moisés”.

Paulo parece ser o exemplo a ser seguido entre os apóstolos como aquele que não desistiu jamais do paradigma de Jesus; sem surtos de tomadas de cidades; sem querer erguer nada no Areópago; sem pretender nada além de ir plantado sementes de igreja nas casas; sem buscar conluio com autoridades das sinagogas; sem falsas expectativas —; enquanto, assim procedendo, em nenhum outro tempo apostólico [...] as coisas geravam mais bulício, produziam mais impacto nas cidades, alvoroçavam mais o mundo!

A Igreja que revolucionou o 1º e o 2º Séculos foi a de Paulo, não a de Tiago, a qual tinha Jerusalém como modelo!

Do 4º Século em diante, todavia, houve uma fusão do modelo de Jerusalém [o de Tiago] com o paganismo cristianizado, miscigenado, sincretizado, politizado e cooptado pelo Imperador Constantino.

Sim; esse é o modelo que vige até aos nossos dias!

Até mesmo o Protestantismo das raízes mais bem intencionadas se serviu dos aparatos que o Catolicismo havia produzido; como, por exemplo, os grandes prédios de culto ao estilo romano; os modelos oficiais de sacerdócio; as hierarquias de autoridade; a oficialidade dos sacramentos; a liturgia do culto; o oráculo procedente de oficiais; os vínculos com as realezas; o conluio com os principados políticos; e, consequentemente, com a propaganda e o mercado.

Assim, a Igreja casa [grão de mostarda] deu lugar à “igreja” Catedral; a Igreja fermento deu lugar à “igreja” da influencia; a Igreja do valor intrínseco deu lugar à “igreja” do intrínseco valor da propaganda; a Igreja do tesouro oculto deu lugar à “igreja” das promoções de poder.

Ora, é por isto que nos últimos 1700 anos a “igreja” teve todos os poderes do mundo na mão, mas o mundo apenas piorou! — sem falar que a Igreja de Deus teve que se ocultar ainda mais nas sombras da “Igreja dos Homens” ou até fora dela!

Desse modo, afirmo que faz milênios que o mundo não assiste ao que possa ser a verdadeira revolução da Igreja; sim, desde os dias em que gente como Paulo praticava a grandeza do pequeno; seguia a fermentalidade subversiva do oculto; celebrava com bravura feliz o achado de grande valor para o coração; e a criação de uma rede de amantes de Deus guiados pela leveza da Palavra apenas — em casas, em bosques, em pequenos grupos, em porões, em jardins particulares, em lugares públicos abandonados, etc... — sim; desde aquele tempo o mundo não viu mais o poder subversivo e sem dono humano da Igreja de Deus!

A revolução da Igreja no mundo decorre de sua disposição de ser não-proprietária; de ser hebreia na leveza peregrinante dos seus movimentos; de ser discreta e prática nas suas obras de amor; de ser o mais livre possível dos poderes constituídos deste mundo; de ser uma comunidade de amor, que se reúne para compartilhar a Palavra, orar, adorar e ajudar-se mutuamente; enquanto vive o testemunho do Evangelho em serviço de amor no mundo.

Se um dia essa Igreja reaparecer em grande escala de multiplicidade não adensada; se ela ressurgir na subversão de ser sem a propaganda de aparecer em outdoors; se ela ressurgir como agente ocultamente visível apenas por suas obras de generosidade e graça; se ela emergir como sombra simples que decorre da sua própria natureza; e se seu gosto for renovado pela qualidade existencial dos seus agentes — então, outra vez, sem que isto decorra de um plano ou de uma estratégia, mas da mera expressão da própria natureza de ser desse ente santo, o mundo tremerá sem saber nem de onde vem o abalo.

Nós, todavia, fomos ensinados pelo diabo que isto é morte, é fraqueza, é moleza, é perda de poder, é desistência de status, é suicídio, é entrega do que se conquistou ao mundo; é coisa de maluco; sim; de gente que perdeu a visão, perdeu a ambição, perdeu o espírito profético.

Sim; diante disso o diabo diz à “igreja”: “Jamais! Isto de modo nenhum te acontecerá, Senhora!

Ao que Jesus continua a responder: “Arreda de mim, Satanás; pois para mim tu és pedra de tropeço!

Eu, porém, sei que grito no deserto; sei que sou lido como louco; sei que tais palavras são consideradas insanidades; sei que não serei ouvido; embora, em meu coração, saiba também que aqui e ali uns poucos me entendam; e, assim, eu julgue que pela conversão de alguns [...] o que hoje seja horrível, possa ser de um modo ou de outro melhorado; ou, pelo menos, possa, em acontecendo em que escala possa acontecer [...], suscitar, emular ciúmes na “Israel/Igreja/Pedrada” — usando os pensamentos de Paulo em Romanos 9,10 e 11.

Nele, em Quem tenho a consciência tranquila quanto a nunca ter deixado de dizer o que Igrejaé para Jesus,


Caio
20 de janeiro de 2012
Lago Norte
Brasília
DF